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Resenha do livro “Vango – Entre o céu e a terra”, de Timothée de Fombelle

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Vango – Entre o céu e a terra

Vango – Entre ciel et terre
FRA, 2010
BRA, 2015

360 páginas

Aventura, Histórico, YA

Autor:
Timothée de Fombelle

Tradução:
Maria Alice Sampaio Dória

Editora:
Melhoramentos

Classificação:
Excelente

Num mundo entreguerras, um jovem prestes a se ordenar padre se vê suspeito de um crime e em fuga. Ele, então, sai em busca de salvar sua pele e, ao mesmo tempo, descobrir a própria identidade. No romance de Timothée de Fombelle acompanhamos Vango em situações e lugares improváveis — como um intruso escondido num caça da SS, galopando nas Terras Altas da Escócia, dependurado num vulcão italiano ou sobrevoando o Brasil e vários outros lugares num zepelim. Também fazem parte da saga outros personagens marcados por vidas cheias de segredos, como Mademoiselle, a Senhora Poliglota e sem memória com quem Vango é salvo do naufrágio na costa da Sicília aos três anos de idade e Hugo Eckner, personagem verídico, comandante alemão do Graf Zepelin, esse grande dirigível que fascinou o mundo nas primeiras décadas do século XX. Outras personalidades incorporadas à história são Joseph Stalin, sua filha Svetlana e Adolf Hitler.

E se você perdesse a memória do passado e apenas restasse o sentimento de que não está seguro e que conspiradores perigosos estão atrás de você? É assim que sempre foi a vida de Vango, desde que ele e sua babá Mademoiselle apareceram, misteriosamente, nas pequenas Ilhas Eólicas da Itália. Ele, muito novo, não tinha nenhuma memória de seu passado, e a sua babá também sempre afirmou que não se lembrava de nada. Esse silêncio dela serviu para alimentar ainda mais a paranoia de Vango.

O livro começa alguns anos depois, em 1934, quando Vango está em Paris prestes a se ordenar padre em uma cerimônia na Catedral de Notre Dame. A narrativa começa a todo vapor e já nos vemos no meio do mistério e da ação, com Vango sendo perseguido pela polícia acusado de um crime e também sendo visado por um misterioso mercenário.

A partir daí é que vamos conhecer um pouco mais sobre esse jovem que está sempre em fuga e algumas das pessoas que já cruzaram seu caminho. A narrativa do Timothée de Fombelle, vai se construindo por meio de flashes do passado, voltas para o presente e diversos pontos de vistas. De uma garota das highlands escocesas a um piloto de dirigíveis dissidente do regime nazista alemão. Do inspetor de polícia a caça de Vango a Svetlana Stalin que ouve o pai sempre conversando sobre a procura do misterioso garoto a quem chamam Pássaro.

Eu tenho que dizer que essa ocorrência de vários pontos de vista não atrapalhou a narrativa. Em certas ocasiões, os autores usam esse artifício para dar maior dimensão ao seu universo e para nos dar várias perspectivas, buscando nos engajar mais na história, só que nem sempre esse efeito é gerado e, ao me apegar a determinado personagem, sinto falta de sua visão quando ela é mudada para outro, ficando entediado algumas vezes até. Isso não acontece com Vango, porque a gente vê a importância de cada um dos personagens e nos apegamos a eles e às suas motivações, sem contar que o autor consegue fazer mudanças de ponto de vista, em sua narrativa em terceira pessoa, de forma muito natural e gostosa de se ler

Vango – Entre o céu e a terra” foi um livro que me surpreendeu muito. Eu não o conhecia e foi muito bom pegar para lê-lo sem expectativas, me engajando com a história de acordo com o que ia lendo e me surpreendendo com ela. O autor soube muito bem construir o suspense, encaixar os elementos do mistério e os fatos e personagens dentro da história que queria contar.

Mesmo com a trama de mistério, o livro traz muitas repostas para eles conforme vão surgindo no decorrer enredo, não passando a sensação de construir o suspense apenas na base da sonegação dos fatos. Assim, chegamos no final desse volume da história de Vango sabendo bastante sobre ele, mas ainda com muito a descobrir sobre seu passado e certas respostas que ficaram suspensas.

Essa construção de narrativa é muito positiva, porque às vezes os autores, mesmo quando se trata de séries, acabam respondendo muitos mistérios nas últimas páginas ou apenas se prendem a construir novos ou a manter os já apresentados sem solução para culminar em um gancho fatal que faz com que a gente até deseje jogar o livro na parede e gritar “por que eu li isso tudo pra acabar, assim, sem respostas!?”

Timothée de Fombelle tem essa narrativa muito boa, com uma cadência que há muito tempo eu não encontrava, me deixando muito contente com a leitura. O livro se sustenta muito bem, com seus personagens interessantes, muitos deles reais, construindo a ficção entremeada por fatos verídicos de um momento tão crítico da História da Europa de forma a prender o leitor e fazê-lo desejar mais. Assim, a existência de uma continuação é natural, há muito o que desenvolver de verdade, não parece algo “vamos vender mais um livro”, e o leitor fica querendo essa continuação pra ontem depois da última página final e, assim, saber como as pontas soltas que permaneceram se enlaçam.

Enfim, “Vango – Entre o céu e a terra” partiu facilmente de minha lista de livros por ler à de leituras favoritas. Foi uma grande surpresa para um livro do qual nunca ouvira falar e foi uma ótima experiência de leitura. Mais que recomendado para qualquer um que gosta de um bom livro de suspense que tem como pano de fundo paisagens maravilhosas e, acima de tudo, livros bem escritos que arrebatam o leitor a cada página.


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